“Para nós as mudanças climáticas começaram com o fechamento das comportas da UHE de Itaipu”, afirmam os Ava-Guarani Paranaenses

As mudanças climáticas manifestam-se de forma desigual, afetando de maneira desproporcional as populações mais vulneráveis economicamente e, em especial, aquelas que são vítimas de racismo sistêmico. Embora as mudanças climáticas sejam definidas como transformações significativas nos padrões de temperatura e seus impactos na vida e no meio ambiente, impulsionadas por ações humanas como a destruição ambiental, o povo Avá-Guarani vivencia esse processo desde 1982, com o fechamento das comportas da Hidrelétrica de Itaipu Binacional (Brasil e Paraguai).O fechamento das comportas resultou na destruição de um ecossistema específico, habitado pela população Avá-Guarani que se autodenomina Paraná Rembey (moradores da margem do Paraná) ou Avá-Guarani Paranaense. Foram devastadas ao menos 55 tekoha kuéra (aldeias) em ambas as margens do rio, sendo 36 no lado paraguaio e 19 no lado brasileiro. A essa destruição ambiental somaram-se graves violações de direitos humanos.
Os Guarani foram submetidos a processos de remoção forçada, sendo transferidos por órgãos indigenistas brasileiros e paraguaios para territórios de outros povos, distantes do rio Paraná, impedindo qualquer possibilidade de retorno. Este processo, denominado Sarambi pá (esparramo geral), foi marcado por uma campanha de terror e negação: o medo era disseminado pelo rádio, anunciando uma grande enchente; a Funai produzia relatórios negando a existência dos Guarani; e o Incra promovia a queima de casas, ameaças e expulsões corriqueiras (essas e outras denúncias estão comprovadas na ACO 3555 no STF).
A construção da hidrelétrica não apenas causou um impacto físico, mas também destruiu a sacralidade do rio. Ao inundar as Sete Quedas, a binacional submergiu um espaço sagrado, considerado uma das maiores manifestações das divindades e relegado aos rituais e cuidados dos Guarani. A empresa também aniquilou outros ambientes sagrados do rio, como a própria “Itaipu”, que representava a comunicação entre as divindades e os humanos. As manifestações divinas feitas pelo ruido das águas nas pedras, ouvidos em situações específicas, marcavam o momento oportuno para os Oguatá porã (migrações, caminhadas para a terra sem mal).
A apropriação do nome “Itaipu” pela empresa, vendendo-o a turistas e investidores como “a pedra que canta” é um insulto e um desrespeito aos povos, constitui uma afronta à vida e à espiritualidade Avá-Guarani.Os Guarani se posicionaram na defesa do rio, movidos por uma obrigação moral demandada pela divindade, mas foram ignorados. Um xamã Avá-Guarani e sua comunidade foram os últimos a deixar a margem do rio, removidos em junho de 1982, apenas quatro meses antes da destruição ambiental que deflagrou a pior crise no mundo dos Avá. Mais do que exigir uma nova terra, o xamã defendia o rio com seu corpo, memória e espiritualidade, em uma profunda relação entre humanos e meio ambiente, mediada pela espiritualidade.
O fechamento das comportas foi interpretado como um fracasso dos humanos em cumprir o pedido das divindades. Os Guarani, contudo, reafirmam que as divindades não destroem a represa por piedade aos não indígenas, mas que permanecem insatisfeitas com o ocorrido.A binacional também gerou mudanças substanciais no entorno ao provocar uma onda de investimentos econômicos nos territórios adjacentes. Dessa forma, o impacto aos Guarani não se limitou à área alagada, mas estendeu-se ao chamamento de empresas e investidores para a região. Atualmente, os pequenos espaços ocupados pelos Guarani estão cercados por plantações de milho e soja transgênica, que são borrifadas com agrotóxicos de 8 a 10 vezes ao ano, desrespeitando os limites das terras indígenas. As plantas geneticamente modificadas se proliferam para além das lavouras da agricultura “moderna”, modificam as plantas medicinais e os Timity (produtos cultivados).
Nada escapa da voracidade do agro, tudo destrói tudo contamina. Neste contexto, o povo Avá-Guarani questiona o espanto tardio da sociedade ocidental ao se dar conta de que suas práticas são inerentemente autodestrutivas e suicidas. Para este povo, a emergência climática não é um evento recente, mas sim um processo que se completa, dolorosamente, há meio século.Enquanto o mundo se apavora com a crise atual, para os Avá-Guarani, ela representa a continuidade de um processo violento, uma forma de racismo estrutural que se materializa na negação de seu território e na negação de sua própria existência.Na COP 30, os Avá-Guarani buscaram aliados para esta causa, que transcende seus limites e se torna uma causa de todos.
Eles sabem que, sozinhos, não conseguirão fazer frente a um processo que não apenas não parou, mas segue em velocidade acelerada. Contudo, o questionamento central permanece: até onde os jurua kuéra (não indígenas) estão dispostos a enfrentar este tema em conjunto? Até onde as sociedades ocidentais estão dispostas a renunciar a seu falso conforto, de sua tecnologia envolta em petróleo, de seu consumismo desenfreado e de seu amontoado de lixo? Mais especificamente, até onde a Itaipu Binacional e os governos do Brasil e do Paraguai estão dispostos a rever esses crimes e efetivar uma reparação genuína? Até onde o tímido pedido de desculpas da Itaipu (lado brasileiro) pelas violações de direitos se materializa na devolução das terras alagadas, na reparação dos cemitérios, e na revisão dos crimes da destruição do rio, das Sete Quedas, da Itaipu e de toda a fauna e flora de seu entorno? A incredulidade na mudança se fundamenta nos processos históricos. Quantos alertas já foram dados à sociedade nacional? Quantas vezes foi comunicado que a mata não poderia ser destruída, que o rio não deveria ser aniquilado, que o veneno não faz bem a ninguém, que a transgenia mata? Se não foram ouvidos no passado, por que acreditar que agora a sociedade não indígena está aberta a escutar e, de fato, mudar? Apesar do ceticismo histórico, os Avá-Guarani sabem que não podem parar. Estes últimos 50 anos demonstraram que o cientificismo da sociedade ocidental não é a solução para o planeta em crise, pois não tem auxiliado na resolução efetiva da relação entre humanos e ecologia. A COP30, pelos poucos avanços realizados no sentido do cuidado com o planeta, é um sinal de alerta, o sistema capitalista não tolera uma convivência respeitosa com a terra. É imperativo fazer as pazes com o passado, rever os crimes cometidos contra a natureza e repensar as relações do presente. É necessário deixar o orgulho e o sentimento de superioridade de lado e admitir que as mudanças climáticas não são um fenômeno recente. A mudança real exige o reconhecimento de que a crise começou há muito tempo, com a violência e a negação impostas aos povos originários.
Belém, 14 de novembro de 2025
Prof. Clovis Antonio Brighenti (Unila)

OS INDÍGENAS NA CENTRALIDADE DE COP/30.
MAS, ATÉ ONDE É PARA VALER!
A capital paraense respira COP30 com a imagem dos povos indígenas no centro das atenções. Aparecem como os guardiões das florestas, os que melhor sabem conviver com o meio ambiente, os que mantém profundo respeito pela natureza.
Quem chega pelo aeroporto ou pela rodoviária e até mesmo pelos rios, se depara com rostos indígenas estampados em painéis, faixas, outdoor e tantas outras propagandas compondo um mosaico de diversidades, convidando para os debates no evento das Nações Unidas Para o Meio Ambiente. Quem caminha pela cidade se depara com rostos e corpos de pessoas indígenas de todas as regiões da América Latina.
É uma multiplicidade de povos, uma diversidade de jeitos de ser, estar e pensar o mundo. São adornos, pinturas, cocares, epistemes, culturas, jeitos e manifestos que marcam profundamente a distintividade desses povos no grande encontro sobre o clima.
Para um desavisado, fica a impressão de que os povos indígenas são o centro da COP30, sendo referências, anunciando uma nova relação com o meio ambiente. Ocorre que estamos longe desse desejo.
Mais do que aprender com os povos, percebemos que eles estão sendo usados como propaganda de um novo tempo, mas não estão na agenda das prioridades dos governos no trato com o meio ambiente e no reconhecimento dos direitos originários sobre seus territórios, condição fundamental para o equilíbrio do planeta.
No caso do Brasil são inúmeras terras aguardando o reconhecimento oficial do Estado, seja através de publicação da portaria declaratória ou da homologação delas. Há diversos territórios sem registro em cartório a uma lista infindável de terras que aguardam os estudos para identificação e delimitação. Enquanto isso, o Supremo Tribunal Federal (STF) não honrou sua decisão de, unanimemente, se posicionou contra o marco temporal para reconhecimento dos direitos às demarcações. Segura como se fosse um troféu a decisão sobre Lei 14.701/2023, que num gesto provocativo e desrespeito aos princípios civilizatórios, o Congresso Nacional aprovou o “marco temporal”.
Em paralelo, avançam sobre territórios demarcados garimpeiros, madeireiros, sojeiros etc. como se não houvesse lei. É flagrante a destruição do meio-ambiente nos territórios indígenas em plena Amazônia, feito pelo avanço desses setores que se consideram “produtivos”. Os biomas Cerrado e Mata Atlântica já foram destruídos, e os povos lutam para sobreviver rodeados de soja e veneno.
A Amazônia agora virou palco de interesses dos donos do petróleo, querem a todo custo justificar que a exploração desse combustível fóssil irá gerar milhões de dólares, apontados como a “solução dos problemas de um país ‘subdesenvolvido’”. Aliás, os governos querem convencer os povos indígenas que o dinheiro resolve todos os problemas, oferecendo os créditos de carbono e assim permitindo que empresas sigam poluindo e seus territórios tendo limites de usos. O que se deseja é sequestrar os territórios já demarcados, limitar o uso dos mesmos pelos povos indígenas. Não é à toa que na COP30 não se fala em outro bioma que a Amazônia, não só porque ela está ameaçada como ocorreu com os demais biomas, mas porque querem transformar a floresta em dinheiro.
O lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) como proposta do Brasil na COP30 é um mecanismo de transformar as florestas em ativos financeiros, como se oferecendo algum dinheiro em troca de manter o bioma preservado, fosse a solução. É uma forma de mercantilização da floresta sem atacar os problemas centrais, muitos deles causados pelo próprio Estado, como as hidrelétricas e projetos desenvolvimentistas. Curiosamente as duas empresas que mais aportaram verba para a COP30 (Vale e Itaipu Binacional) são as que possuem as maiores dívidas ambientais com os povos indígenas.
Os Ava-Guarani paranaenses, afetados pela Binacional em ambas as margens (Brasil e Paraguai) estão também na COP/30 exclamando "Menos promessas, mais ações - Itaipu, é hora de reparar os danos históricos ao povo Avá-Guarani do Paraná". Recentemente a Itaipu, do lado brasileiro, pediu desculpas publicamente aos Avá-Guarani, mas em termos de gesto concreto na devolução dos mais de 50 mil hectares de terras expropriadas desse povo, quase nada se fez até o momento.
A Vale, que com sua exploração mineral afetou profundamente os territórios e os povos indígenas no MA e em MG, mantém o percurso sem alteração, faz uso da COP30 como um grande negócio e não como uma oportunidade de rever seus referenciais de exploração.
Aliás, na COP30 circulam muitas empresas ávidas por negócios e lucros, usando e abusando da imagem dos povos indígenas para capitanear apoio e dividendo dos desavisados. Um novo cenário necessário Não é somente no não reconhecimento dos territórios que o governo demonstra estar afastado dos povos indígenas, a proposta do Fundo Florestas Tropicais para Sempre demonstra que o governo está totalmente alheio às contribuições dos povos indígenas.
De fato, não entenderam a proposta de relação dos povos indígenas com as florestas. Se hoje os territórios dos povos indígenas são os mais preservados ambientalmente (em todos os biomas) não é porque os povos receberam verba para preservar. É resultado das ciências indígenas, de suas práticas e saberes ancestrais, de não deixar desertos atrás de si.
Para os povos indígenas o meio ambiente não é uma paisagem isenta de vida e de espíritos/alma. Se a divindade dos humanos ocidentais autorizou o uso e abuso do meio ambiente (presente nos mitos de criação, Gênesis 1:28), autorizou o domínio, o uso e abuso das plantas e animais, não o fez com os povos indígenas. Suas divindades criaram relação simétricas e horizontais entre humanos e meio ambiente, de modo que os povos indígenas não possuem poder sobre a natureza, mas um profundo respeito, não por uma visão egoísta (ambientalismo ocidental) mas porque o meio é dotado de seres físicos e espirituais que necessitam viver. Entendem que todos devem ter o direito de viver.
Parte do mundo ocidental até tenta copiar dos povos indígenas conceitos, como o Direito da Natureza, mas sempre mediado pelo utilitarismo do meio. Essa forma de estar no mundo não se vincula ao lucro, a pensar financeiramente as florestas como desejam os governos, mas criam mecanismos de relação que partem do pressuposto do respeito e convivência. Portanto, segue o hiato entre o que desejam os governos e o pensam os povos indígenas, seguem rumos e propostas diferentes de atuar, uma pensada desde o sistema financeiro, da commodities dos lucros e de pensar que a felicidade é com dinheiros, confrontada com outra visão de mundo que tem seu pensamento forjado na relação milenar entre humanos e meio ambiente, desejando apenas estar bem na sua integralidade (definido genericamente como bem viver).
Na COP30 os povos indígenas chegaram aos milhares, ergueram acampamentos físicos e simbólicos, estão anunciando a possibilidade de um mundo sem crise climática, um mundo simples, mas profundo de relação. São inúmeras atividades todas anunciando que a crise climática vivida na contemporaneidade foi criada a partir do colonialismo e sua ânsia por riquezas e, se o mundo quer de fato enfrentá-la, terá que rever profundamente sua prática.
COP30, Belém – PA 10 de novembro de 2025
Dr. Clovis Antonio Brighenti Professor de História - Unila
AVA-GUARANI PARANAENSES CHEGAM À COP30 PARA DENUNCIAR OS CRIMES DA ITAIPU BINACIONAL E EXIGIR REPARAÇÕES
Líderes Ava-Guarani organizados na Comissão de Gestão Étnica Binacional do Paraguai e do Brasil chegaram a Belém (PA) na COP30 para denunciar publicamente os crimes causados a seu povo pela construção da Hidrelétrica e até hoje não reparados.

Com o lema: "Menos promessas, mais ações - Itaipu, é hora de reparar os danos históricos ao povo Ava Guarani do Paraná", os Ava paranaenses enviaram uma mensagem clara à opinião pública nacional e internacional sobre as graves violações cometidas pela construção da megabarragem de Itaipu há quase cinco décadas, que forçou milhares de famílias a abandonar suas comunidades e territórios tradicionais, sem qualquer reparação ou restituição até hoje.
Vozes das Mulheres Ava-Guarani Paranaense
As defensoras do povo Ava-Guarani Paranaense também fizeram ouvir suas vozes na mídia presente, enfatizando a importância de que, nesta COP30, os povos indígenas afetados por megaprojetos de desenvolvimento como Itaipu sejam ouvidos e atendidos pelas autoridades, com atenção especial ao Paraguai e ao Brasil. Este último, na semana anterior, emitiu um pedido público de desculpas ao povo AGP, que foi recebido pelos líderes como um passo importante, mas insuficiente, pois um pedido de desculpas não basta; será necessário e urgente uma reparação satisfatória e a restituição territorial ao povo Ava-Guarani Paranaense, de acordo com os padrões de direitos territoriais que protegem e salvaguardam seu povo.

Belém, PA, 09 de novembro de 2025


Fórum de Justiça de Transição Indígena divulga carta e marca cerimônia para entrega de minuta da Comissão Nacional Indígena da Verdade (CNIV)
A carta reforça a necessidade da criação da CNIV em decorrência da violência sistemática contra os povos indígenas durante a ditadura militar O Fórum: Memória, Verdade, Reparação Integral, Não Repetição e Justiça para os Povos Indígenas torna pública a carta intitulada “POR QUE UMA COMISSÃO NACIONAL INDÍGENA DA VERDADE?”. O documento detalha a necessidade da CNIV em decorrência da violência secular e sistemática contra os povos originários, que se institucionalizou através de órgãos como o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e a Funai, e foi agravada durante a ditadura cívico-militar-empresarial (1964-1985).Emitida pela Coordenação Colegiada do Fórum, que inclui a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), o Instituto de Políticas Relacionais (IPR), o Ministério Público Federal (6ª CCR/MPF) e o Observatório de Direitos e Políticas Indígenas da Universidade de Brasília (OBIND-UnB), a carta é resultado de um processo de construção coletiva focado na revelação da verdade, fundamental para superar o passado de violência e valorizar o direito dos povos indígenas à memória, autonomia e perpetuação como povos distintos.
Leia a carta aqui: https://apiboficial.org/files/2025/09/CARTA-POR-QUE-UMA-COMISS%C3%83O-NACIONAL-IND%C3%8DGENA-DA-VERDADE.pdfO
Fórum: Memória, Verdade, Reparação Integral, Não Repetição e Justiça para os Povos Indígenas é uma iniciativa multissetorial instituída em 13 de setembro de 2024. O propósito central do Fórum é ampliar o debate público sobre a justiça de transição para os povos originários e, principalmente, formular uma proposta de instituição de uma Comissão Nacional Indígena da Verdade (CNIV).
Em um ano, o Fórum, que opera por grupos de trabalho e possui mais de 60 adesões de organizações indígenas, sociedade civil, academia e observadores internacionais, realizou 16 plenárias e conseguiu levantar mais de 80 casos de povos que tiveram seus direitos violados.4
Cerimônia em BrasíliaO Fórum também elaborou uma minuta de ato normativo para a criação e disciplina desta Comissão Especial. Este documento, que busca concretizar uma recomendação específica da Comissão Nacional da Verdade (CNV) de 2014, deverá ser entregue oficialmente às instâncias governamentais competentes durante uma cerimônia programada para o dia 21 de outubro de 2025.
O evento ocorrerá em Brasília com o objetivo de que o Estado brasileiro assuma sua responsabilidade pelas graves violações de direitos humanos sofridas pelos povos originários, que incluíram assassinatos, remoções forçadas, envenenamentos, sequestros de crianças e esbulho de terras. A criação da CNIV é vista como um dever do Estado, conforme o art. 216 da Constituição Federal, para assegurar o direito à memória de cada povo indígena.
Cimi e Unila divulgam lista de selecionados para décimo curso de extensão em Histórias e Culturas Indígenas
A lista com os nomes das pessoas selecionadas para a décima edição
do curso de extensão em Histórias e Culturas Indígenas, promovido
pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e pela Universidade da
Integração Latino-Americana (Unila), pode ser conferida abaixo.
Os selecionados e selecionadas devem confirmar suas inscrições até
o dia 26 de setembro, pelo e-mail curso.indigenismo@cimi.org.br,
cópia para extensao.indigenismo@unila.edu.br.
É importante que a confirmação seja enviada aos dois endereços
de e-mail.
Devido à grande procura, dez novas vagas foram abertas para além das 60 anunciadas no edital. Caso não seja confirmada nos e-mails indicados até o dia 26, a vaga será remanejada para a segunda chamada, que será divulgada no dia 29 de setembro.
A carga horária do curso é de 180 horas, distribuídas em 144 horas de aula, que incluem as atividades remotas síncronas e assíncronas, e 36 horas destinadas à realização de um ensaio com a supervisão de um(a) orientador(a). Os e as cursistas terão até 20 dias após o término das aulas para entregar o trabalho final.
As aulas síncronas (ao vivo) iniciam no dia 6 de outubro e ocorrerão de segunda a quarta-feira, das 19h às 22h. Já as aulas assíncronas ocorrerão de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h30 ou das 14h às 17h30, a critério do(a) cursista.
Lista de selecionados(as) para a décima edição do Curso de extensão em Histórias e Culturas Indígenas
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Adi Rodrigues da Silva
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Andressa Crisitna Algave Pereira
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Andrew Vieira de Mira
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Arquelino Xavier dos Santos
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Carlos Eduardo dos Santos Campos
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Cecilia Maria de Morais Machado Angileli
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Clarice Carvalho Maués
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Claudia Regina Gregol Rudnick
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Cleymenne Cerqueira Barbosa
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Cristiane Sales Pereira
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Eliane Delamar Roque
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Eva Potiguara
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Daniela Franciela Sales
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Desni Lopes Almeida
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Diana Paula Salomão de Freitas
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Dinayana Kelly Uchôa do Nascimento
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Edilza Santos Dias
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Ellen Arruda Tabarkiewicz
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Eronilde da Silva Soares
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Fabiana Mesquita Guarani
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Felipe Martins Cândido
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Fernanda Batista Pugas
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Fernanda Gonçalves de Oliveira da Cruz
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Flávia Rocha Banyan de Oliveira
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Francisca Geane da Silva Ferreira
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Francisco Bernardo da
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Gabriel da Conceição Silva
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Gabriel Matheus serra maia de Souza
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Greth Gomes lima
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Iamma Karoline Carvalho Martins
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Ione Figueredo Lira da Silva
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Isabela Do Nascimento Silva
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Jamine Goulart Nascimento
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Joel Roberto de Lima
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Jorge do Nascimento Batista
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Judith Steinbach
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Laisa Massarenti Hosoya
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Larissa Lago Freire
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Letícia Cristina Amorim Saraiva dos Santos Moura
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Lillian Fátima Almeida
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Liliene Rabelo dos Santos
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Lohane Maísa Marques Pereira
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Luana Cristina Serejo Correa
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Luci de Souza Ferreira
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Luciana Silva Lima
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Luciano Teixeira Rocha
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Marcelo Argenta Camara
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Marcelo Ferreira da Silva
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Maria Clara Evangelista Ferreira
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Maria Fernanda de Souza Bacelar
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Mariana Costa Guimarães
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Millena de Souza Carneiro
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Miriam Luzia Xavier
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Nelzélia Santos Costa
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Poliana Gabriel Oliveira
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Prisciliana Costa Ventura
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Rafael Tamandaré Tupinambá
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Raquel Batista Bezerra
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Raquel da Silva Araújo Claro
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Rayna Natasha Barbosa dos Santos
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Rejane Vieira Costa Silva
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Robson Cleiton de Souza Guimarães
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Samara Pires Neto
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Suyanne Magda Pinheiro de Carvalho
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Talita Yosioka Collacio
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Valéria Lopes Peçanha
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Vinicius de Aguiar Caloti
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Vinícius Galvão Zanatto
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Vitória Luyza Cardoso Barbosa
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William Vieira de Souza


Nota de repúdio:
QUANDO É PARA PENALIZAR OS
GUARANI A JUSTIÇA É RÁPIDA
O Observatório da Temática Indígena na América Latina (Obial/Unila), vem a público manifestar solidariedade ao cacique Guarani do Tekoha Arakoe, situado em Terra Roxa -PR) e a todas as comunidades Guarani no oeste do Paraná, bem como repudiar veementemente a decisão preferida pela Justiça Federal no processo Ação Penal Nº 5008994-77.2024.4.04.7004/PR que condenou o líder Guarani “à pena privativa de liberdade de 15 (quinze) anos e 10 (dez) meses de reclusão, a ser cumprida no regime inicial fechado” por tentava de assassinato e roubo qualificado contra policias da Força Nacional.
O crime teria ocorrido em 06 de setembro de 2024, quando os policiais da Força Nacional que estavam no território a pedido do Ministério da Justiça e Ministério dos Povos Indígenas para proteger os Guarani contra terceiros, atuaram de forma a gerar insegurança entre os Guarani, ao se portar como se estivessem defendendo a ação do fazendeiro, quando trabalhadores em um caminhão pretendiam realizar o plantio no local.
Ao protestar contra a atitude da Força Nacional, que na visão dos Guarani estava defendendo o fazendeiro, se depararam com policiais descuidados e despreparados para lidar com esses tipos de contexto ao ponto de deixar a arma de fogo de grosso calibre exposta e ao alcance de terceiros, resultando na toma da mesma por um guarani. Porém, não houve feridos, não foram efetuados disparos e a arma foi devolvida, mesmo assim, para a Justiça Federal, o crime merece 15 anos e 10 meses de reclusão. Nossa solidariedade aos Guarani .Os Guarani merecem toda nossa solidariedade. O caso ocorreu em contexto de conflito e disputa por terras. A mesma justiça que em menos de um ano condenou o cacique Guarani, está há cinco anos com o processo sobre a demarcação da terra indígena paralisado (2020). Nesses 5 anos de morosidade de decisão judicial que se espera favorável aos Guarani, 07 pessoas foram assassinadas, ocorreram 15 ataques e tentativas de assassinato, resultando em dois Guarani paraplégicos e 09 estão com chumbo alojado no corpo além de tentativas de assassinato e, nenhuma pessoa condenada.
Nosso profundo desagravo a atuação do Ministério Público Federal local que ofereceu denúncia sem levar em consideração o contexto, sem levar em consideração que esse caso ocorreu porque desde 2009 os Guarani aguardam a demarcação da terra, sem levar em consideração que a violência contra os Guarani é sistêmica e cumulativa e, sem levar em consideração sua atribuição de defender os povos indígenas (Art. 129, CF/88). Os Guarani sequer tiveram possibilidade de manifestar-se na própria língua durante o interrogatório, conforme normativa do Conselho Nacional de Justiça (Resolução Nº 454 de 22/04/2022 Art. 3o, I). Essa negação de direito de serem ouvidos na língua nativa poderá resultar na condenação de mais três Guarani por falso testemunho: “abertura de investigação para apuração de possível crime de falso testemunho cometidos pelas pessoas de (...), ouvidas neste feito como testemunhas de defesa”.Por esses fatos, os Guarani se manifestaram, em maio deste ano, ao Conselho Nacional dos Direitos Humanos, que só quando é contra os Guarani a justiça é rápida.Foz do Iguaçu, 04 de setembro de 2025


Cabeçalho 5
Cimi e Unila abrem inscrições para décima edição do curso de extensão em Histórias e Culturas Indígenas
As inscrições para a décima edição do Curso de extensão em Histórias e Culturas Indígenas, realizado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e pela Universidade da Integração Latino Americana (Unila), estão abertas até o dia 12 de setembro. O curso é gratuito e será realizado na modalidade de ensino remoto entre os dias 6 de outubro e 10 de dezembro de 2025. Há 70 vagas disponíveis, conforme detalha o edital do curso.
O curso de extensão é direcionado a pessoas que atuam em espaços formativos e educativos e voltado para agentes de movimentos e pastorais sociais, professores de educação básica e superior, estudantes universitários, lideranças indígenas, operadores do direito e defensores dos direitos humanos e dos direitos dos povos indígenas. Não é exigida titulação escolar ou acadêmica para a participação no curso, que será certificada pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex) da Unila.
As pessoas interessadas no curso devem preencher o formulário de inscrição online com suas informações básicas até o dia 12 de setembro. Junto à inscrição, deve ser enviado um texto de 1800 a 2000 caracteres com espaço, arguindo sobre o “contexto atual da política indigenista no Brasil”.
A carga horária do curso é de 180 horas, distribuídas em 144 horas de aula, que incluem as atividades remotas síncronas e assíncronas, e 36 horas destinadas à realização de um ensaio com a supervisão de um(a) orientador(a). Os e as cursistas terão até 20 dias após o término das aulas para entregar o trabalho final.
As aulas síncronas (ao vivo) ocorrerão de segunda a quarta-feira, das 19h às 22h. Já as aulas assíncronas ocorrerão de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h30 ou das 14h às 17h30, a critério do(a) cursista.
Eliminar o preconceito étnico-racial, valorizar os saberes e práticas dos povos originários e e formar multiplicadores para a abordagem do tema das histórias e culturas indígenas são os objetivos do curso, que teve sua primeira edição realizada em 2016 e vem sendo ofertado anualmente desde então.
A iniciativa busca contribuir para a inserção dos cursistas em seus contextos de atuação e para a implementação qualificada da Lei 11.645/2008, que estabelece a obrigatoriedade do estudo de história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas públicas e privadas do país.
Cronograma
A divulgação da primeira chamada para as pessoas selecionadas para o curso será divulgada no dia 15 de setembro, com prazo de confirmação até o dia 19 do mesmo mês. Novas chamadas para eventuais vagas remanescentes será divulgada no dia 22 de setembro.
Ementa
Os conteúdos que serão abrangidos pelo curso incluem:
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Introdução à educação para a diversidade
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História e Resistência Indígena
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Antropologia Indígena: marcos conceituais referentes à diversidade sociocultural
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Novas epistemologias indígenas: o Bem Viver como crítica radical ao capitalismo
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Terra, Território e Territorialidade e sua relação com práticas e saberes ambientais
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Direitos indígenas: legislação e mobilização política dos Povos Indígenas
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Justiça restaurativa: Reparação histórica e os mecanismos da reconciliação
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Conjuntura Político Indigenista, espaços de controle social e protagonismo Indígena
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Orientações: teorização sobre a prática
Corpo docente
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Dr. Clovis Antonio Brighenti (Coordenador) – Professor de História das sociedades Indígenas e da América Latina. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7972713627348895
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Dr. Saulo Ferreira Feitosa – Professor de medicina na UFPE. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7755039016472671
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Dra. Chantelle da Silva Teixeira – Atualmente é professora convidada no curso Licenciatura Indígena: políticas educacionais e desenvolvimento sustentável da UFAM. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7323073827907286
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Dr. Cristhian Teófilo da Silva – Professor Titular do Departamento de Estudos Latino-Americanos (ELA) da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas Colaborativas com Povos Indígenas, Comunidades dos Quilombos e Povos e Comunidades Tradicionais (LAEPI, Grupo de Pesquisa do CNPq). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3919969920731350
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Dr. Maycon Henrique Franzoi de Melo – Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Professor na Universidade CEUMA. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8186207096630837
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Dra. Barbara Maisonnave Arisi– Doutora em antropologia pela UFSC. Professora no Vrije Universiteit Amsterdam (Holanda). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3548634367086337
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Cleber Buzatto – Filósofo e membro do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
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Mestre Marline Dassoler – Mestre em Ciências Farmacêuticas. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6834239523325609
Curso de Extensão em Histórias e Culturas Indígenas
Realização: Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Universidade Federal da Integração Latino Americana (Unila)
Formato: ensino remoto
Prazo para inscrições: 12 de setembro
Período de aulas: 6 de outubro e 10 de dezembro de 2025
Carga Horária: 180h, divididas entre 144h de aulas remotas (síncronas e assíncronas) e 36h para a realização do trabalho final
Mais informações: Cimi: curso.indigenismo@cimi.org.br
UNILA: extensao.indigenismo@unila.edu.br


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“Se não tem terra, não tem paz”: Missão de Direitos Humanos escuta o clamor dos Avá-Guarani no Oeste do Paraná
Por Welita Barbosa e
Osmarina de Oliveira
A missão
Entre os dias 23 e 27 de maio, aconteceu uma missão especial do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) e do Comitê Brasileiro de Defensores de Direitos Humanos aos Avá-Guarani de Guaíra e Terra Roxa, localizados no oeste do estado do Paraná (PR). Essa missão foi composta pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul, Terra de Direitos, Justiça Global, Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Ministério Público Federal (MPF), Defensoria Pública da União (DPU), Defensoria Pública do Estado (DPE), Núcleo de Promoção da Igualdade Étnico-Racial (NUPIER), Laboratório Etnoterritorial (LAET), Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP).
A Missão teve como objetivo fortalecer as articulações institucionais para garantia de direitos ao povo Guarani, dar visibilidade às violações de direitos enfrentadas por essas comunidades e reforçar medidas de proteção às lideranças indígenas ameaçadas.
A atividade iniciou na cidade de Guaíra com reuniões institucionais, percorreu as comunidades Tekoha Yvy Okaju e Yvyju Awary. Na sequência, a comitiva seguiu para Terra Roxa, onde visitou Tekoha Arakoé e Tata Rendy.
Onde as lideranças, caciques e comunidade foram escutadas e puderam denunciar toda a violência que o povo Guarani tem vivenciado. As denúncias variam entre ameaças de morte a lideranças, tentativa de homicídio (incluindo disparos contra um ônibus escolar), atropelamentos fatais e sistemáticas violações de direitos básicos, da falta de energia elétrica e acesso à água potável, ao racismo institucional nas escolas e unidades de saúde.
Em lágrimas, o Cacique Isaías, liderança do Tekoha Guasu, ergueu a voz entre pausas emocionadas para lembrar: “O território é sagrado. Se não tem terra, não tem moradia, não tem direito. Sem terra, não há como viver em paz.” Em cada palavra, ele representava não só sua aldeia, mas o grito sufocado de todo um povo.
As comunidades Avá-Guarani têm sido alvo recorrente de violência extrema, incluindo tentativas de homicídio, espancamentos e ataques armados, como o disparo contra um ônibus escolar que quase feriu uma criança. Esses episódios evidenciam um cenário alarmante de vulnerabilidade e abandono, em que lideranças e famílias inteiras vivem sob constante ameaça, muitas vezes sem qualquer resposta efetiva do Estado.
Viver sem documento, comer sem comida
“Nossos documentos eram nossos cocares. Hoje, sem Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), não se vive.”
O desabafo é comum entre as lideranças, que denunciam a ausência de políticas públicas para regularização dos guarani. Sem documentação, ao menos oito pessoas de um Tekoha não conseguem acessar benefícios como o Bolsa Família.
A dificuldade de locomoção também pesa: a entrega de cestas básicas exige deslocamentos até a cidade, onde muitas vezes é preciso pagar Uber. “E como pagar Uber se não temos nem comida?”, questiona Paulina, liderança criminalizada pela Polícia Federal sob a alegação de envolvimento em conflito fundiário, sem qualquer prova ou garantia de defesa justa.
Falta de água
Os caciques também denunciaram que a Sanepar fornece água apenas duas vezes por semana e os reservatórios da aldeia não são suficientes para consumir, cozinhar e manter a higiene. Apesar de várias tentativas de melhoria no abastecimento, até o momento nenhuma medida concreta foi tomada.
Devido ao abastecimento insuficiente crianças sofrem preconceito por “federem”, resultado da falta de água para higiene.
Educação sem escola, saúde sem remédio
O acesso à educação é dramático. Crianças são obrigadas a estudar em escolas urbanas, que são deslocadas de transporte escolar fornecido pela prefeitura, no entanto, a comunidade relatou que “alunos noturnos não conseguem estudar porque o ônibus não entra à noite na aldeia. E devido às condições das estradas os “quando chove, nem de dia vem”.
E a ausência de infraestrutura impede a permanência dos jovens e crianças no ensino, sendo assim as famílias sofrem bloqueios de benefícios como bolsa família e muitos estão com o cadastro bloqueado há quatro meses.
O cacique revela que a comunidade está sem acesso adequado de água e luz, mesmo assim a escola cobra dos estudantes acesso e conclusões de atividades em plataformas digitais, que diante da realidade enfrentada pela comunidade fica impossível a realização das atividades escolares. O cacique ainda afirma que “ninguém consegue estudar pelo celular.”
Saúde
A saúde também está comprometida. Muitos indígenas precisam ir até Toledo para extrair um dente. Casos graves como o de Vicenta Martines, que quase morreu na UPA por falta de diagnóstico, são frequentes. “As gestantes, os idosos, as vítimas de tiros precisam de atendimento especial. Não é só a ferida no corpo, é a dor na alma, da nossa espiritualidade” afirmou liderança
A violência no cotidiano
As comunidades estão cercadas por fazendas que utilizam agrotóxicos indiscriminadamente. “À noite, os tratores passam jogando veneno. Até os passarinhos desapareceram”, denuncia uma moradora. Não podem mais caçar, nem pescar: placas de proibição estão fincadas no território tradicional. “É como se quisessem nos apagar pela fome” afirmou o cacique.
Em um dos episódios mais tristes, um casal e a filha foram atropelados em frente à escola. Em outro, um ônibus escolar foi alvejado e por pouco, uma criança não foi atingida. A Funai foi chamada, mas a proteção permanece insuficiente.
Retomada e resistência
Apesar da fome e da sede, da ausência do Estado e das ameaças de morte, o povo Avá-Guarani reafirma sua permanência no território. “Querendo ou não, nós fazemos parte da sociedade. Eles têm medo que a garantia de direitos traga mais guarani. Mas nós não viemos de fora: sempre estivemos aqui”, afirma a liderança Filemon Garcia.
A retomada do território Yvy Porã (*Arakoe?), em julho de 2024, é um símbolo de resistência. No entanto, o descaso persiste: placas solares para gerar energia não chegaram, os mutirões de documentação não são suficientes, e os pedidos feitos em Brasília seguem sem resposta.
O Brasil que sangra
A missão do CNDH ouviu, registrou e prometeu encaminhar denúncias ao Ministério Público Federal, ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região e à Comissão de Conflitos Fundiários do CNJ. Também houve sinalização para ampliar a atuação da Força Nacional e exigir da Itaipu Binacional a regularização da compra de terras — essencial para garantir a sobrevivência física e cultural dos povos.
Mas para os Avá-Guarani, cada dia sem resposta é uma eternidade de dor. “Muitos já morreram sem ver a demarcação do seu território. Nós só queremos viver em paz. Mas até quando vamos aguentar lutar sozinhos?”
Aguyjevete. Que a palavra siga firme. Que o território floresça. Que o país escute.

Foto:Laboratório Etnoterritorial (LAET)
“QUE SEJA APENAS O COMEÇO DAS REPARAÇÕES”:
CARTA DE MANIFESTAÇÃO DA COMISSÃO GUARANI DA VERDADE SOBRE A COMPRA DE 3 MIL HECTARES COM VERBAS DA ITAIPU:
A Comissão Guarani da Verdade (CGV) criada em 2015, após a publicação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (10/12/2014) vem a público manifestar sua posição sobre a destinação de verba para a compra de 3 mil hectares de terra para o povo Guarani na região Oeste do Paraná.
Foram muitos anos de espera, de manifestações e documentos pedindo que as reparações ocorressem. Tivemos que pedir ao Ministério Público Federal para ingressar com uma Ação Civil Originária na suprema corte, porque havíamos perdido as esperanças da Binacional reconhecer a dívida histórica. Hoje estamos colhendo os resultados desse trabalho.
Diante do contexto atual manifestamos a seguinte posição:
1 – Ficamos felizes com a decisão tomada no âmbito da ACO 3555, porque ela demonstra que de fato nosso povo teve seus direitos desrespeitados;
2 – Essa iniciativa pode ajudar a reduzir a violência que ocorre contra nosso povo, em especial no que tange a demarcação de terras, mas também diminuir os venenos que nosso povo absorve cotidianamente com as lavouras do agro que chegam nos nossos pátios;
3 – Em que pese a importância do ato, entendemos que é um paliativo, semelhante ao que ocorreu em 1982, meses antes da formação do lago, quando a Itaipu assentou a comunidade do Ocoy/Jacutinga no atual Ocoy em 250 ha, como local provisório;
4 – Esperamos que essa compra não se transforme novamente em um provisório/permanente, como ocorreu com o Ocoy;
5 – A ACO 3555 não pode ser extinta, ela precisa seguir assim como as negociações para compra de mais terras e de outras medidas que precisam ser executadas;
6 – Precisamos conversar sobre a devolução de todas as terras alagadas como outras iniciativas, que ajudem a construir uma reconciliação na região, onde nossos parentes não sejam mais acusados de estrangeiros e tratados com violência e preconceito;
7 – Também precisamos discutir as medidas relativas à extinção dos lugares sagrados como o próprio rio Paraná, as Sete Quedas, bem como a apropriação e desconstrução do nome “Itaipu” pela binacional;
8 – As reparações precisam ocorrer também com nossos parentes que moram do outro lado do lago, no Paraguay. A Itaipu é Binacional e nosso povo ocupa os dois países, as duas margens, muito antes de existir Brasil e Paraguai;
9 – Por fim, lembramos que precisam iniciar as reparações pelo Incra, que roubou a terra do Tekoha Guarani em Foz do Iguaçu em 1975; que fez um programa de reassentamento denominado PIC Ocoi I e II sobre nossas aldeias, que queimou nossas casas etc; também a Funai e Parque Nacional do Iguaçu que fizeram remoções forçadas e outros crimes; o Estado do Paraná que cedeu nossas terras a empresas colonizadoras;
10 – Precisamos que sejam criadas medidas especiais de reparação às pessoas e famílias que foram violentamente removidas pelos atos da Funai, Incra e Itaipu, com fundos reparadores permanentes.
Enfim, são diversas as demandas por reparação que precisam ser tratadas no âmbito da ACO 3555, por isso as conversações não podem parar.
Tekoha Ocoy, 23 de março de 2025
Comissão Guarani da Verdade

Missão de Direitos Humanos visita terras indígenas convertidas em ‘zonas de guerra’
Uma missão de Direitos Humanos percorre terras retomadas pelos Avá-Guarani e Guarani e Kaiowá que estão sendo duramente atacadas. Indígenas feridos a tiros, incêndios criminosos, sequestros, agressões físicas, racismo nas cidades do entorno e uso de agrotóxicos em ataques dissimulados. Da guerra química às táticas incendiárias, são cerca de duas dezenas de Guarani feridos em ao menos dez ataques de grande porte nos dois estados. Ler mais
Evento sobre a criação da Universidade Indígena

Nesta quarta-feira (11), uma delegação da UNILA composta por estudantes indígenas de diferentes povos participou do Seminário Regional Sul de escuta para implementação e criação da Universidade Indígena. Uma iniciativa dos ministérios da Educação (MEC) e dos Povos Indígenas (MPI), o evento foi realizado na Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó/SC. Também fizeram parte da delegação da UNILA o professor Clovis Brighenti, presidente da Comissão de Acesso e Permanência dos Povos Indígenas (CAPPI); e Fernanda Sobral, chefe da Seção de Bancas da Secretaria de Ações Afirmativas e Equidade (SECAFE).

Feminicídio indígena cresce 500% em 10 anos; Paraná está acima da média nacional
Entre 2003 e 2022, os casos de feminicídio de mulheres e adolescentes indígenas no Brasil aumentaram alarmantes 500%, com as vítimas sendo predominantemente jovens, solteiras e com menor escolaridade. A região Sul apresenta uma taxa de mortalidade significativamente alta, com 4,5 mulheres mortas por 100 mil, número muito acima da média nacional. Leer mais.

AUDIÊNCIA PÚBLICA: GARANTIA DE VIDA E TERRITÓRIO DO POVO XETÁ
O povo Xetá, reconhecido como o último grupo indígena contatado no sul do território brasileiro, possui uma história marcada por resistência e resiliência frente a episódios de violência e expropriação de suas terras ancestrais. A audiência pública será uma oportunidade valiosa para conhecermos mais sobre sua trajetória e os desafios enfrentados atualmente.
Contamos com a sua presença para enriquecermos este importante debate e buscarmos juntos caminhos para promover a garantia dos direitos e da dignidade do povo Xetá.
LOCAL: Auditório da CCJ - Assembleia Legislativa do Paraná
DATA: 09/04/2024
HORÁRIO: 18:00h